O menor deles Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.’ (Mateus 25,40b)
Em um texto anterior, abordei o tema do ensino moral católico no contexto da imigração. Ressaltei ainda a polarização que caracteriza o debate atual sobre o tema. Nesse contexto de um conflito mais abrangente, certos líderes políticos e especialistas da mídia têm realizado críticas à Igreja Católica nos Estados Unidos, levando em consideração sua atuação no apoio aos migrantes.
Neste espaço, pretendo abordar o papel da Igreja tanto em nível nacional quanto local: quais são as nossas ações, as razões por trás delas e a forma como as executamos. Meu objetivo é fornecer uma visão fundamentada para avaliar as diversas alegações e críticas relacionadas ao compromisso da Igreja com a caridade.
Permita-me começar pelo “porquê”. Na semana anterior, defendi que nossa abordagem em relação às questões de migração deve sempre ser vista dentro do contexto do chamado divino à compaixão e à solidariedade. É importante ressaltar que esse contexto transcende as questões migratórias. O ministério, os exemplos e os ensinamentos do Senhor moldaram a Igreja em sua dedicação aos necessitados. Essa atitude remonta à época de Israel e dos profetas, que enfatizavam o cuidado especial de Deus para com os mais vulneráveis: a viúva, o órfão, o pobre e o estrangeiro (Deuteronômio 10,18).
Em Jesus, essa verdade estabelecida das Escrituras encontra nova profundidade e intensidade quando encontramos o Emanuel, Deus Conosco. Jesus revela o coração de Deus e a vontade de Deus. Jesus também levanta um espelho para os seres humanos, revelando nosso verdadeiro eu, feito à imagem e semelhança de Deus. Ele nos oferece um “novo mandamento” de que amemos uns aos outros como Ele nos amou (João 13,34).
A sua graça é um dom universal, oferecendo esperança a todas as nações e a todas as pessoas. O ensinamento moral católico sustenta que toda vida é sagrada para Deus e que todos somos chamados a agir com compaixão, especialmente para com aqueles que se encontram sozinhos ou esquecidos. Essa é a verdade por trás da voz católica para o nascituro no útero, os idosos pobres e doentes ameaçados de serem descartados, o apelo por justiça e liderança servidora em prol do bem comum. Todas essas realidades estão ligadas, pois podem ser atribuídas ao amor curador e reconciliador do Senhor. Ele concentrou a convocação na Parábola das Ovelhas e dos Cabritos. Lá, Ele proferiu aquele famoso e desafiador ensinamento: “Tudo o que fizerdes a um destes pequeninos, a mim o fazeis” (Mateus 25,40).
Agora vamos considerar o “o quê”. O empenho caritativos da Igreja que busca viver o ensinamento do Senhor Jesus. A Catholic Charities, a Sociedade de São Vicente de Paulo, o empenho da pastoral social paroquial, Knights of Columbus, Catholic Relief Services e tantas outras organizações e esforços comunitários procuram ajudar todo e qualquer um que tenha necessidade. Proclamamos a Boa Nova de Deus com tais esforços, mas não exigimos conversão ou mesmo acordo como preço da ajuda. Ajudamos pessoas em suas necessidades básicas, como moradia, nutrição, roupas, educação, saúde e assistência em desastres. Parte dessa ajuda é em nível local, pois os vizinhos ajudam os vizinhos. Outra Parte dessa ajuda é oferecida em nacional e internacional. A ajuda é oferecida sem qualquer exigencia ou verificação de identidade. Se alguém é humano e necessitado, encontrará ajuda da Igreja Católica.
Você pode notar que o “porquê” e o “o quê” estão intimamente interligados. Essas são maneiras concretas pelas quais a Igreja Católica vive sua própria identidade como Corpo de Cristo. Com isso em mente, volto-me para o “como” do que fazemos.
A Igreja Católica nunca existiu de maneira que os fiéis adorem a Deus sem procurar viver a fé concretamente no mundo. Desde as primeiras gerações, os cristãos eram conhecidos por seu cuidado com os pobres, idosos e doentes. Ao longo de dois mil anos, o “como” assumiu muitas formas e esse legado na vida da Igreja produziu uma notável variedade de instituições, associações e Ordens. Em nosso país, a Igreja Católica perde apenas para o governo em esforços para educação, saúde e serviços sociais. Os imigrantes estão entre os que procuram assistência dos serviços. Como observado acima, não há “teste” de status antes que tal ajuda seja oferecida. O único teste permitido para nós é determinar a necessidade e fazer tudo ao nosso alcance para ajudar.
Um outro elemento do “como” diz respeito às parcerias com outras pessoas. Os esforços de caridade católicos muitas vezes se associam a esforços semelhantes de outras entidades religiosas e seculares. Ao longo do último século, nos Estados Unidos, instituições e dioceses católicas também fizeram parcerias com agências governamentais locais, estaduais e federais. Essas parcerias frequentemente evoluem porque os líderes governamentais reconhecem a eficácia e a eficiência das instituições católicas. Nesses casos, as instituições católicas recebem financiamento governamental contratado para trabalhos de caridade.
Nosso “porquê” é que conhecemos a graça do Senhor Jesus e buscamos viver Seumandamento de amar. O “o quê” é que buscamos ajudar os necessitados, especialmente os “menores destes”. O “como” é que buscamos parceiros para o bem comum, incluindo o governo, e que nos envolvemos em muitos e variados programas de educação, assistência médica e serviços sociais. Até agora, isso pode não parecer controverso. Na verdade, qualquer católico bem catequizado está familiarizado com o quadro apresentado aqui. Por que, então, a Igreja está sendo criticada?
Primeiro, somos acusados de permitir a imigração ilegal ao fornecer caridade para aqueles que podem não ter uma base legal para sua presença nos Estados Unidos. O argumento é estranho. Como observei na semana passada, é responsabilidade do governo dos Estados Unidos regular adequadamente suas fronteiras. Ao simplesmente responder à necessidade das pessoas à nossa frente, estamos cumprindo a lei de Deus e não estamos violando a lei da terra. Na verdade, a Constituição dos Estados Unidos protege nosso direito de agir de acordo com nossa fé, auxiliando os necessitados em nosso meio.
Em segundo lugar, a Igreja Católica tem sido criticada pelos fundos concedidos por agências governamentais para seu trabalho com migrantes. A Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos tem muita experiência com o reassentamento de refugiados. O governo dos EUA aproveitou essa rede existente ao contratar os bispos para esse trabalho nos Estados Unidos. Ao contrário de alegações recentes, esses esforços não beneficiam a Conferência dos Bispos. Em vez disso, a Conferência compromete milhões de seus próprios dólares para esse trabalho e fornece um canal eficiente para os esforços do governo. Também observo que essas parcerias contratuais têm sido típicas de administrações republicanas e democratas.
No nível mais local, a Catholic Charities of Boston e o Saint Mary’s Center há muito fornecem moradia para os necessitados. Esse trabalho específico de abrigar pessoas é atualmente feito em parceria com o Estado de Massachusetts. Embora esse trabalho não tenha sido iniciado para imigrantes em particular, os imigrantes estão entre aqueles que se beneficiaram de tais programas. Não há motivo mercenário em tais esforços. Catholic Charities e St. Mary’s são auxílios notáveis que ajudaram gerações de pessoas com grande generosidade. Sou muito grato a eles e a tantos outros por garantir que os necessitados saibam que são amados.
Obrigado por me permitir falar com vocês sobre esses assuntos importantes. Estou profundamente ciente de que tudo o que fazemos como Igreja aqui em Boston é devido à sua fé e comprometimento. Vocês apoiam nossas paróquias, escolas, seviços e instituições de caridade. Espero que essas colunas sejam úteis para sua própria compreensão e discernimento. Obrigado por sua bondade e generosidade. Como tenho certeza de que vocês percebem, nosso exercício de compaixão e caridade não é apenas um serviço ao próximo, pois por meio do nosso trabalho nos tornamos os homens e mulheres que o Senhor nos chamou a ser. Que a viúva, o órfão, o pobre, o estrangeiro, “o menor deles” sempre encontrem uma acolhida entre nós.