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Roteiro homilético: 07 de Julho (14º DOMINGO DO TEMPO COMUM)

Movidos pela força de Deus

I. INTRODUÇÃO GERAL

Quem nunca desanimou na caminhada de fé? Quem já olhou para os desafios e pensou que seriam grandes demais? Quantas vezes quisemos desistir ou voltar atrás? Em meio a essas questões e sentimentos, experimentamos a força do Espírito Santo, que nos leva adiante e não nos deixa desistir do seguimento de Jesus.

Na liturgia deste domingo, Deus chama pessoas para serem testemunhas, no mundo, do seu projeto de salvação. Ele se mostra através das fraquezas e fragilidades humanas, ensinando que a ação dele é maior e realiza mais do que se possa imaginar.

O texto da primeira leitura apresenta um trecho da vocação de Ezequiel, chamado a profetizar no período do exílio do povo de Israel na Babilônia. Era um tempo desafiador, um povo difícil e uma tarefa enorme de ser a voz de Deus para aquelas circunstâncias de desesperança e desolação.

De igual modo, as dificuldades encontradas por Paulo em sua missão evangelizadora fazem-nos pensar como Deus sustenta seus escolhidos. Ele narra com sinceridade, na segunda leitura, a realidade desse chamado divino, feito não só de bons momentos ou muitos sucessos, mas também de ocasiões em que Deus guia para além das capacidades humanas. A fragilidade humana é assumida e se torna experiência da força de Deus.

No Evangelho, Jesus volta ao seu lugar de origem, Nazaré. Ele já percorrera muitos vilarejos nos arredores e se tornara conhecido por sua pregação. Diante dele, alguns se admiravam do que fazia e outros questionavam sua origem e como seria capaz de tanto. Ele não realizou muito por lá devido à incredulidade das pessoas, tampouco desistiu de sua missão pelo descrédito recebido. Continuou percorrendo os povoados da região (Mc 6,6).

Ouvindo e imaginando esses personagens bíblicos de diferentes contextos, pensamos também em nosso chamado. Os momentos difíceis não são para nossa desistência, e sim para o exercício de maior confiança na força de Deus do que nas próprias. Ele, que nos chama, também nos faz capazes de perseverar até o fim.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Ez 2,2-5)

A profecia de Ezequiel se desenvolve após a incursão de Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 597 a.C., na qual levou ao cativeiro muitas pessoas, entre as quais o rei Jeconias e o próprio profeta, que era sacerdote (Ez 1,1-3).

O livro contém visões do profeta que falam ao povo de Judá a respeito da condição de vida em uma terra estrangeira. No início (Ez 1,1-3,21), a visão descreve a vocação do profeta como quem deve falar, em nome de Deus, às pessoas. O trecho da leitura deste domingo se encontra nessa seção inicial.

Ezequiel narra que o Espírito de Deus o colocou de pé (v. 2) – sinal de prontidão e disposição – para ouvir e, consequentemente, comunicar o que ele estava acolhendo. Em seguida, Deus fala a respeito da missão do profeta e explica quais são as características dos destinatários das palavras da sua profecia: nação de rebeldes, desobedientes, revoltados, face dura, coração obstinado e indóceis a Deus (v. 3-4). Mesmo que o povo não escute o profeta, deverá saber que houve alguém entre eles anunciando a Palavra de Deus (v. 5).

Essa passagem do livro de Ezequiel proclamada na liturgia não explicita o conteúdo do que o profeta deveria dizer ao povo. Ela mostra o grande desafio com o qual o profeta deparará e, além disso, como Deus insiste com ele e o encoraja para aquela missão. A profecia será possível por causa da ação de Deus por meio do profeta, não pelas próprias forças deste.

2. II leitura (2Cor 12,7-10)

Corinto possuía uma comunidade fundada por Paulo (At 18,1-8), à qual ele escreve a fim de resolver várias questões comunitárias, das quais resultaram as duas cartas aos coríntios.

As circunstâncias da segunda carta são confusas e parecem reunir diferentes redações. No entanto, certamente Paulo faz sua autodefesa (2Cor 10,1-13,10) devido ao descrédito de seu ministério por parte de alguns (2Cor 2,5; 7,12). A passagem proclamada na liturgia deste domingo é parte dessa defesa do apóstolo.

Paulo defende a autenticidade do seu ministério diante dos “superapóstolos” que o acusavam. Ele não se sente inferior a ninguém, muito menos aos seus detratores. Se quisesse entrar na mesma dinâmica, poderia orgulhar-se de muitas coisas, nomeadamente das revelações que recebeu e das suas experiências místicas (2Cor 12,1-4). Entretanto, ele quer apenas que o vejam como um homem frágil e vulnerável, a quem Deus chamou e enviou para dar testemunho de Jesus Cristo entre as pessoas.

Paulo menciona um “espinho na carne” (v. 7), que gerava humildade nele pelos sofrimentos. Não se explicita de que se trata, mas tal “espinho” produziu em Paulo um reconhecimento de que ele não é um herói nem pode confiar demasiadamente em suas habilidades humanas. A força de Paulo está no reconhecimento de sua debilidade, finitude e limitação, pois assim ele se torna forte, confiando na “graça de Deus” (v. 9), que não lhe falta. Reconhecendo-se fraco, ele é forte devido à ação de Deus (v. 10).

O êxito da missão de Paulo se encontrava na confiança que ele tinha em Deus, por mais que tivesse motivos para confiar nas próprias forças. A evangelização é obra de Deus realizada por meio de pessoas que se dispõem a servir a partir de uma experiência de fé. Portanto, cabe-nos ter atenção para não nos superestimarmos, como se o que se realiza fosse por nossos méritos. Na verdade, tudo é graça de Deus.

3. Evangelho (Mc 6,1-6)

As experiências de rejeição ministerial presentes nas duas leituras encontram reflexo igualmente na vida de Jesus. Ele deixa as margens do lago de Genesaré para ir à sua terra, Nazaré, em dia de sábado (v. 1).

O evangelista já havia narrado outras atividades de Jesus no dia do repouso dos judeus (Mc 1,21; 2,23; 3,1), no qual ele agia e gerava conflitos. Na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1,27-28), todos ficaram admirados e questionaram, maravilhados, de onde vinha aquele ensinamento. Era diferente do dos mestres da Lei e fariseus.

Em contrapartida, entre seus conterrâneos, as perguntas são de desconfiança, pois Jesus pertencia àquele lugar e seus parentes eram conhecidos pela maioria (v. 2-3). Jesus não tinha nada de excepcional que o qualificasse para as exigências daquelas pessoas. Era um artesão comum de Nazaré, cidade rural pouco considerada na região (Jo 1,46). Como ele poderia falar e agir daquela maneira?

A cena na sinagoga de Nazaré é impactante. A ousadia de Jesus chama a atenção dos presentes. Sem título algum, ele ensina na sinagoga e se apresenta como mestre, diante da admiração de todos. Com sua vida e palavra, Jesus interrompe o discurso dos especialistas sobre Deus. A surpresa, o desapontamento e o conflito que ele provocou ensaiam cada dia novas palavras e novos gestos.

Em vez de gerar a fé em Deus, como havia ocorrido em outras partes, Jesus se torna um escândalo para aquelas pessoas (v. 3). Sente a repulsa delas, à semelhança de muitos profetas das Escrituras, por isso denuncia a situação e não consegue realizar nenhum milagre (v. 5). Nessa resposta, Jesus se mostra um enviado de Deus, que atua em nome dele e tem uma Boa-nova para oferecer à humanidade. Seus ensinamentos não vêm dos mestres judaicos, mas de Deus, e alguns dali não acreditavam.

Se, por um lado, há admiração e questionamento das pessoas por causa dos ensinamentos de Jesus (v. 2), por outro, ele também se admira da incredulidade inesperada (v. 6). No entanto, não desiste da missão por causa dessa experiência em Nazaré. Ele segue ensinando e prosseguindo seu caminho de proclamação do Reinado de Deus por palavras e ações. Se não é bem acolhido em um lugar, passa para outro e continua a missão.

Ao contrário do que alguns pensam e pregam, a vida de Jesus não foi pautada por um sucesso mundano. Atualmente, alguns se empenham por valores como fama, prestígio, status social, poder, influência entre poderosos, bens etc. A mensagem do Evangelho pregada por Jesus escapa aos holofotes e se realiza na simplicidade de quem se abre para acolher.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Vivemos em tempos nos quais muitas pessoas se importam mais com a aparência do que com a realidade; nos quais a vida publicada nas mídias sociais se sobrepõe à dura realidade e o sucesso e a fama são exigidos de todos.

As leituras deste domingo nos tiram do engano do falso ego para nos situar na realidade da vulnerabilidade, dos limites e da possível rejeição. A vida real também passa por essas experiências valiosas de amadurecimento humano e espiritual. Tais ocasiões são verdadeiras purificações das fantasias que criamos sobre nós mesmos, sobre a missão e a realidade.

Deus se manifesta na fraqueza e na fragilidade. Quando o ser humano se recusa a entender essa realidade, facilmente perde a oportunidade de descobrir que Deus vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Ele lhe apresenta.

Comprometer-nos com a fé em Deus é sentir na missão essas desolações, perceber nossas fragilidades e conviver com o insucesso. O “sim” diário que damos a Deus não garante que sempre seremos acolhidos nem que todos os empreendimentos serão exitosos, tampouco nos torna super-humanos; ao contrário, faz-nos defrontar melhor nossas sombras, ajuda-nos a acolhê-las e nos dá a consciência de que o que se realiza é ação de Deus em nós e por meio de nós.

Se muitas vezes desanimamos, se nos entristecemos porque não estamos como deveríamos ou se gostaríamos que a missão estivesse melhor, a liturgia nos convida a perceber isso tudo e oferecer a Deus. A graça dele nos basta! Nada do que é bom realizamos por nossas forças, e sim pela força de Deus.

Pe. Marcus Mareano*é presbítero da arquidiocese de Belo Horizonte, doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) e pela Universidade Católica de Lovaina (KU Leuven). Professor de Bíblia em alguns seminários. No momento, desenvolve uma pesquisa de pós-doutorado na Universidade Católica de Lovaina (KU Leuven).

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