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Roteiro homilético: 24 de Dezembro (4º DOMINGO DO ADVENTO)

“Faça-se em mim segundo a tua palavra!”

I. INTRODUÇÃO GERAL

As leituras da liturgia deste domingo apresentam a profecia do “Emanuel, Deus-conosco” e seu cumprimento no anúncio do anjo Gabriel a Maria. Na catequese permanente que é a liturgia, esse programa de leituras permite uma reflexão sobre o mistério da encarnação, já anunciado nos escritos proféticos veterotestamentários. O projeto de vida plena e de salvação definitiva anunciado outrora pelos profetas agora se torna uma realidade concreta, tangível e plena com a chegada de Jesus.

A primeira leitura fala da promessa ao rei Davi, feita por meio do profeta Natã, de que Deus não abandonará seu povo nem desistirá de conduzi-lo até a realização de felicidade plena. Por isso, Deus colocará no trono de Davi um descendente que cuidará da casa de Israel. A segunda leitura chama esse projeto de salvação de mistério. Paulo nos lembra que as profecias revelam o modo de agir de Deus. E a narrativa lucana da anunciação relata o momento em que Jesus se encarna na história da humanidade a fim de trazer a salvação e a vida para todos. Pelo sim de Maria se concretiza o projeto de Deus, e também nós somos chamados a dizer sim a Deus para continuar a missão de levar Jesus Cristo ao mundo inteiro.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16)

Os livros de Samuel retratam o período de constituição do Estado de Israel, quando se faz a passagem do modelo tribal para a monarquia. Esse processo ocorreu no final do século XI e início do século X a.C. As tribos do Norte e do Sul tiveram um único rei para governar todo o povo. Até esse ponto de sua história, Israel tinha aparentemente sido privado de instituições políticas e militares, sendo governado por juízes escolhidos pelas tribos. Com o surgimento da monarquia, aconteceu uma mudança radical na vida de Israel, que se compreendia como povo governado por Deus.

O texto deste domingo reflete o pensamento daqueles que desejaram a monarquia e trabalharam para isso. Com a escolha de um rei, constitui-se uma dinastia, mas não um trono para o Senhor Deus. Davi não construirá o templo para o Senhor, apenas um palácio para si. Sua dinastia falhou em fazer o que Deus aprova. Tantos outros reis de Israel não cumpriram com seu papel de defender o projeto de Deus e dele cuidar. Somente o Messias enviado irá construir o Reinado de Deus para sempre; isto é, somente Jesus consegue estabelecer o cuidado amoroso, como verdadeiro Pastor do povo escolhido para sempre, porque seu Reinado não pertence a este mundo.

Davi teve muitas conquistas, entre as quais a cidade de Jerusalém, que pertencia aos jebuseus. Mais tarde, a arca da Aliança foi colocada no templo de Jerusalém. O rei ampliou fronteiras e trouxe certa estabilidade, graças a um grande investimento militar. Daí nascem as esperanças de um futuro rei que viria governar Israel de modo semelhante, trazendo estabilidade ao povo e restaurando a paz, que foi quebrada por inúmeras batalhas e guerras fomentadas pelas disputas de poder políticas, econômicas, culturais e religiosas.

2. II leitura (Rm 16,25-27)

A leitura, tomada da carta aos Romanos, é um hino a Jesus Cristo como o Filho de Deus. Trata-se de uma compreensão profunda sobre o plano de salvação, que a comunidade chama de mistério. Mantido em segredo por muitos séculos, esse mistério foi plenamente revelado em Jesus Cristo, por meio de seus gestos, de suas palavras e, sobretudo, de sua morte e ressurreição. Tal mistério, revelado aos apóstolos e discípulos de Jesus Cristo pelo Espírito Santo, agora é transmitido pela Igreja a todos os povos.

A palavra “mistério” diz respeito às coisas que não se explicam pela ciência. São sinais a serem contemplados. Na teologia de Paulo, quer dizer que Deus não precisa justificar, diante de nossos critérios científicos, seu modo de agir. Contemplar os mistérios de Deus não é alienação, tampouco significa recusa da sabedoria científica. O nascimento de Jesus faz parte do mistério da salvação. O amor de Deus pela humanidade só se explica pelo mistério de nos amar de modo incondicional, não porque merecemos, mas simplesmente porque seu amor por nós é infinito. Esse amor não se apagou no decorrer da história; pelo contrário, chegou à plenitude em Jesus Cristo.

3. Evangelho (Lc 1,26-38)

A narrativa lucana do nascimento de Jesus trata do cumprimento da promessa de Deus de que enviaria um descendente da casa de Davi para conduzir seu povo. Jesus é concebido sob a ação do Espírito Santo. José era descendente remoto de Davi, e Maria, descendente da casa de Aarão, o primeiro sacerdote do povo escolhido, do qual descende a tribo de Levi, consagrada para o serviço exclusivo do culto a Deus. Maria se apresenta como a serva do Senhor, que aceita colaborar com o plano divino mediante seu sim ao anjo Gabriel.

O anúncio do nascimento de Jesus, segundo Lucas, é o grande sinal de que Deus recorda sempre de sua Aliança; ele continua a enviar mensageiros para levar adiante seu plano de salvação. O nascimento de João Batista foi extraordinário, por ele ter sido concebido por pais idosos; o de Jesus é ainda mais extraordinário, por ele ter sido gerado por uma virgem. A figura de Gabriel vincula as anunciações e convida à reflexão sobre o significado do nascimento de Jesus como cumprimento das Escrituras. Maria é mulher de grande fé, e o evangelista Lucas a propõe como modelo de fiel temente a Deus. Ela questiona o anjo acerca de como poderia ser a mãe de Jesus, mas não questiona por que Deus a escolheu. Sua resposta de fé é de completa confiança em Deus.

Maria teve um papel muito importante na história da salvação. O relato termina com sua resposta final: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Afirmar-se como serva significa, além de humildade, reconhecer-se como uma pessoa eleita por Deus para servi-lo. Isso implica que Deus lhe concede uma missão específica. Na longa tradição bíblica judaica, o termo “servo/a do Senhor” é título reservado às pessoas escolhidas por Deus. Assumir a condição de servo/a significa entender-se como alguém reservado pelo Senhor para seu serviço, como alguém enviado por Ele ao mundo para uma missão especial. Desse modo, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita sua missão com disponibilidade e manifesta total disposição para cumprir, com fidelidade, o projeto divino para sua vida.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

As leituras da liturgia apresentam modelos de pessoas que se põem a serviço do povo de modos diferentes. O rei Davi, inicialmente pastor, assume a responsabilidade de governar o povo escolhido. Embora desejasse fazer um bom governo, acabou se distanciando de Deus. Cometeu erros graves por vaidade e ambição, fazendo o que Deus reprova. Maria e Paulo põem-se a serviço de Deus e do povo em outra perspectiva. Eles se dispuseram a colaborar com Deus, na missão que o próprio Deus lhes confiou.

Neste domingo que precede o Natal de Jesus, Maria mostra como é possível dar Jesus ao mundo inteiro: mediante um sim incondicional ao chamado do Senhor. Deus continua a nos chamar e espera que, por meio de muitos de nossos sins, da nossa disponibilidade e entrega, Jesus possa ser oferecido a todas as pessoas de todos os tempos. Maria, Paulo, os apóstolos são colaboradores da obra salvífica de Deus, assim como todo discípulo e discípula que se dispõem a oferecer Jesus aos irmãos e irmãs, particularmente aos pobres, humildes, infelizes, marginalizados e todas as categorias de pessoas que necessitam do nosso serviço para terem vida mais digna e plena. O Natal do Senhor é oportunidade anual para um gesto de solidariedade e amor fraterno.

Izabel Patuzzo*pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção. Doutoranda em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. em São Paulo. E-mail: isabellapatuzzo@hotmail.com

 

Fonte: Vida Pastoral

 

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